Solitária em sua cama, munida da pouca
consciência que ainda não eliminara, mergulha profundamente dentro de si. De
alguma forma não convencional, ao cair da noite se vê sempre às margens da
óbvia conclusão de ser o seu próprio mundo o mais desconhecido e amorfo do qual
já tomara conhecimento. Nada que lhe apavore,
nada que lhe intimide, nada que lhe aflija.
Somos todos bandeirantes de nós mesmos, desbravando sentimentos e
questionamentos com os quais nos deparamos de forma cíclica, ao bel-prazer da
periodicidade que o querer divino julgue conveniente.
Em sua perspectiva bastante peculiar, ousa presumir
que noite e paz são antônimos diametralmente posicionados e diretamente
proporcionais. Queria mesmo era fugir de tudo isso, de todo esse contexto no
qual fora inserida através de uma ejaculação desprovida de método
contraceptivo. Os verbos nascer e padecer não devem se correlacionar apenas
pela sonoridade da última sílaba, não... Seria simplório demais para ser
racional.
O vento sutilmente lhe faz emergir de seus
devaneios para lhe mostrar como pode ser prazeroso observar o valsar das cortinas. Vê nisso imediatamente
duas possibilidades: a razão lhe estimula a crer que apenas fora subtraída de
seus pensamentos por um simples estímulo visual que sua visão periférica
captou; a religião lhe sugere a intervenção divina que de forma sutil não quis
permitir que Isolda permanecesse imersa nos turvos pensamentos nos quais
costuma chafurdar. E como saber o que de fato lhe fizera quebrar sua suposta
linearidade de pensamentos? Talvez a melhor argumentação satisfaça, mesmo que
se apresente incrustada de sofismas. É normal se questionar quanto aos motivos
que lhe fazem crer ou desacreditar em algo? E se não for normal tal
questionamento, quem isto afirma, seria o guardião da régua da normalidade? O fiel
da balança? A anormalidade não lhe soa tão pavorosa, a normalidade não se
apresenta de forma tediosa, mas e agora? Não sabe. Porém, suspira balançando a
cabeça enquanto sorri com um dos cantos da boca ao perceber que acreditar é uma
escolha, consciente ou não.