terça-feira, 11 de agosto de 2015

Insônia


Alguns amores e algumas dores nós sempre traremos no peito.
 

 Personagens fortes sempre me atrairam.
Talvez resquícios de uma infância permeada por pessoas fortes.
E aprendi convivendo com elas que perfeição não é o adjetivo que melhor descreve as pessoas de personalidade forte.
Elas são difíceis, pedras brutas, por vezes indigestas, de convívio arduo, fronteiriças... Ácidas até em sorrisos,  mas apaixonantes, acima de tudo apaixonantes.
Vivo buscando tais pessoas, vivo sedento do convívio com elas, como um vício íntimo.


As pusilânimes nunca me apeteceram.
As amáveis, doces, afáveis e de fácil convívio são previsíveis, repetitivas, monótonas, quiçá enjoativas.
Afirmo tais coisas com a certeza de quem fecha os olhos para fazer uma escolha.


Nada sei.
Nada penso.
Nada quero.
Ou talvez queira: ter apenas minha companhia.
Relacionamentos costumam ser caros em demasia. Não apenas na acepção pecuniária da palavra, mas em todas.
Por vezes tento me impor o raciocínio de que os custos são cobertos pelos benefícios, então percebo que dentro de um relacionamento até mesmo os benefícios tem um preço, o que resulta em custos sobre custos.


Cansado.
A sombra da infelicidade enegrece meus dias.
Limitações/convenções sociais fustigam-me em silêncio com a paciência das formigas que lentamente minam toda uma casa.
Cesso meus pensamentos e espero que tudo passe(mas não passa).
Refreio meus desejos sob o argumento de que a dor alheia não pode ser o preço da minha felicidade. Mas então é a minha infelicidade algo a se prescindir?


Busco apoio profissional e tudo que recebo é uma prescrição médica em folhas azuis para a aquisição de remédios controlados, mais de um, mais de uma vez ao dia.
Pela manhã, um inibidor seletivo da recaptação de serotonina (antidepressivo), à noite, um indutor do sono.
Assim os dias passam mais rápido, as vontades deixam de existir, as dúvidas arrefecem, o barulho dentro da cabeça silencia e a libido falece.


Preciso mesmo é dos riscos.
O risco de ser comprovadamente a ovelha negra de uma família já não assombra, basta não abrir meu convívio a ninguém, não compartilhar nada sobre mim, ter respostas evasivas, buscar paciência para suportar que as pessoas que apresentam aquele sorriso de "eu sou melhor que você" possam gargalhar em minha presença.
Ao final das risadas tentarei esboçar um sorriso de lábios enquanto me despeço em direção ao próximo bar.


A percepção de filhos como cadeados que nos prendem ao que não sabemos se queremos assombra em 3D.
Alguém me perguntou se quero ter de acordar de madrugada para trocar fraldas? Preparar comida? Socorrer meu pequeno ao hospital mais próximo?
Egocêntrico?
Eu?
Infantil?
E quem vai cuidar de você quando envelhecer?
Ok.
Então é para isso que servem os filhos?
Retiro lentamente o vel que pus em meus olhos e descubro que minha esterilidade sentimental se deixa vender por qualquer trocado de conveniência e comodidade.
Ok.
Mas ainda posso renunciar tudo isso?

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